Ana Carô Amaral

Pensamentos soltos sobre a vida depois dos 30

Depois de 7 anos sendo freelancer, voltei a ser funcionária

Uma das únicas certezas profissionais que eu tinha ao me mudar para a Irlanda era de que eu procuraria um emprego formal. Primeiro porque eu queria muito conhecer novas pessoas, melhorar meu inglês e me aprofundar na cultura do país e, vamos ser sinceros, que melhor forma do que passar boa parte do meu dia rodeada de irlandeses?

Segundo porque eu precisava de uma estabilidade financeira. Já viu como está o câmbio brasileiro? Pois é, não ia rolar manter meus clientes de freelance no Brasil, ganhando em real, e gastar em euro. Eu viveria, literalmente, um eterno 7×1 por aqui.

Primeiro eu precisava regularizar meu visto no país. Chegamos dois dias antes do lockdown severo recomeçar em todo o país e, com isso, o escritório da imigração também ficou fechado. Tive que aplicar para o visto por e-mail e ouvia dizer que estava a maior demora. Dei sorte e tive a resposta bem rápido, mas quero fazer um post mais detalhado sobre isso, então por enquanto só vou dizer que em Fevereiro eu já pude começar a procurar emprego.

E aí, veio o primeiro baque: antes de ficar 7 anos trabalhando por conta, eu trabalhei 5 anos em uma agência. Então a última vez que tinha procurado emprego de forma ativa tinha sido há 12 anos atrás! E, óbvio, nesse meio tempo tudo mudou e pelo que todo mundo me falava e eu lia por aí, o caminho era investir meu tempo em melhorar meu perfil no LinkedIn. Eu já tinha um perfil por lá, super abandonado e às moscas, então fiz um curso rápido com dicas de como melhorá-lo, botei a mão na massa e ainda mandei mensagem para vários ex-colegas pedindo para escreverem recomendações sobre mim. Funcionou e, em mais ou menos um mês eu já estava com o perfil relativamente bom e começando a obter algumas respostas.

Passei abril inteiro procurando empregos, escrevendo cover letters e me aplicando à vagas durante umas 5 horas por dia (eu ainda tinha as coisas da Lindices e clientes no Brasil para atender, então tive que dividir meu tempo). Comecei a fazer várias entrevistas, sempre por vídeo chamadas. Tinha semana em que eu tinha 3 ou 4. Algumas eram para vagas que me faziam brilhar os olhos, outras para vagas mais no estilo “pelo menos é um começo”. Tive todo o tipo de resposta: eu tinha pouca experiência (quando tinha me aplicado para vagas em novas áreas para mim), eu tinha muita experiência (17 anos como designer gráfica me fizeram ser uma “tia” para esse mercado), como ainda estava com o visto temporário eles preferiam seguir o processo seletivo com alguém que já tivesse o permanente, eu estava muito longe da empresa ou, simplesmente, eles tinham encontrado alguém que se encaixava melhor na vaga.

Falei com empresas de tecnologia, mercado alimentício, construtoras, agências de publicidade, apps de saúde mental e vários outros setores. Foram mais de 500 e-mails entre candidatura, agendamento de entrevistas e conversas sobre testes. Teve de tudo um pouco, a grande maioria empresas grandes do tipo moderninhas que mandam kit de boas vindas, tem meetings semanais para a equipe se conhecer melhor e dão vários benefícios. Nada rolava e eu lá, convertendo os reais que ganhava para viver por aqui. Teve um processo seletivo que me marcou bastante, para o time de marketing e design de uma das lojas mais chiques do país. O time era pequeno, eu fiz algumas entrevistas e fui passando de fase mas, de repente, eles sumiram. Mandei e-mail e recebi uma ligação da menina do RH dizendo que eles tinham escolhido outro designer porque achavam que eu tinha experiência demais e ficaria entediada na vaga rapidamente. Fiquei maaaaal, triste pra caramba, porque era uma vaga muito legal e eu já tava toda apaixonada pela empresa. Lembro que nesse dia eu enchi a banheira e tomei um banho looongo, toda chorosa, triste porque não teria o emprego em que estava apostando minhas fichas.

Na última semana de abril, em um grupo de Whatsapp em que a Lari me adicionou, apareceu uma pessoa procurando por designer gráfico para trabalhar por dois meses fazendo agendas escolares, em uma editora aqui em Dublin. Eu, que amo uma papelaria, me candidatei na hora. Eles estavam com pressa, então poucos dias depois, no primeiro dia útil de maio, comecei a trabalhar para eles de casa. Estava tranquila com um freela de 8h diárias até o fim de junho. QUE COISA BOA! \o/

O tempo foi passando e eu continuava reservando algumas horas do dia para me aplicar a outras vagas, já que não tinha nada fixo nesta editora. Cheguei a ter uma proposta de emprego de uma agência de publicidade, mas recusei porque achei que não seria feliz por lá e eu tinha esses dois meses de “garantia” financeira para procurar algo de que gostasse mais. Foi um período bem conturbado porque logo meu pai foi internado, então penso nesse freela como um presente duplo do universo: me garantiu uma renda em euros e me fez ficar com a cabeça ocupada por boa parte do dia, assim não me desesperava só pensando em meu pai.

Na editora, as pessoas foram gostando do meu trabalho e a moça que tinha me contratado me falou que estava mudando de cargo dentro da empresa e que me recomendou para ficar no lugar dela, gerenciando o time de design. Fiquei feliz demais, trabalhar na área editorial sempre tinha sido algo que eu desejei e nunca tinha acontecido, então fiz a entrevista com o dono da empresa e cruzei os dedos. Duas semanas depois, recebi um e-mail pedindo para prolongar meu contrato de freelancer por mais dois meses e trabalhar exclusivamente com outro produto da empresa, em um outro time. Fiquei nesse time até o meio de agosto, quando recebi a proposta para o cargo para o qual havia feito a entrevista e perguntando se eu poderia começar na próxima semana, trabalhando presencialmente na empresa.

Estou há pouco mais de 2 meses nessa posição, aprendendo pra caramba e tem sido divertido e prazeroso demais! Nesse pouco tempo já teve livro lançado com capa feita por mim (durante meu tempo de freela, mas foi ótimo participar de todo o processo de lançamento dele), finalização de outro livro e o início de um projeto bem grande e que eu tô adorando. Todos os meses de procura foram cansativos e me drenaram muito mentalmente, mas valeram a pena. Tô feliz como há muito tempo não ficava, profissionalmente.

Ana Carolina

4 comentários em “Depois de 7 anos sendo freelancer, voltei a ser funcionária

  1. Ah, que história bacana, muito feliz por você!
    E trabalhar em editora, que máximo! Sempre tive uma vontadezinha de trabalhar em editora, mas minha formação em jornalismo/redação nunca me levou pra esse caminho. Muito sucesso para você aí ~ e fiquei com vontade de ver essa capa do livro feita por você! :)

      1. Amiga! Eu estava muito curiosa em saber sua jornada atrás de emprego, e agora que vi aqui. Fiquei lendo e torcendo por um final feliz haha parecia que estava lendo um livro daquelas que nos prendem a atenção. E que final! Feliz por vc, que é dedicada como ninguém.

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