Ana Carô Amaral

Pensamentos soltos sobre a vida depois dos 30

Sobre o Sr. Oswaldir

Lá em casa ninguém é muito de afagos, físicos ou emocionais. A gente não é uma dessas famílias que diz que se ama o tempo todo, que se abraça, beija e fica grudado. Somos em 6 (meus pais, eu e meus 3 irmãos) e nunca fomos assim. Então, pra mim, esse é o normal, sabe? Não sinto falta de desligar o telefone falando pra minha mãe que a amo ou de chegar na casa dos meus pais e ficar agarrada neles. A gente sabe que todo mundo se ama, que faria qualquer coisa um pelo outro e pronto. Não precisa ficar falando, beijando, abraçando.

Expliquei isso pra vocês entenderem o que vou falar do meu pai. Seu Oswaldir é um homem sério, quieto, fechado. Enquanto eu crescia, praticamente todas as minhas amigas falavam que tinham medo ou vergonha dele, justamente por acharem que ele era tão quieto porque estava bravo. Ele é severo, mas nunca me bateu (que criança nascida nos anos 80 não recebia umas palmadas, né? Resposta: euzinha). NUNCA! O máximo que recebi quando criança foram um ou dois beliscões, isso quando o irritava MUITO (e ó que eu não era uma criança muito quieta, viu?).

Recebendo o diploma na faculdade e há pouco tempo, com a Estelinha no colo.
Recebendo o diploma na faculdade e há pouco tempo, com a Estelinha no colo.

Meu pai tem esse jeitão com qualquer pessoa. Não é de sair, não tem muitos amigos, não curte uma festança barulhenta. Ele chega, fica quietinho, fuma alguns cigarros (infelizmente, não parou até hoje), fala com quem vem falar com ele e vai embora. Alguns podem dizer que ele é anti-social, mas não é isso. É só o jeito dele mesmo. Em casa ele fica quietinho no canto dele lendo, assiste os jogos de futebol, fala baixo. Acho que posso contar nos dedos das mãos as vezes em que vi meu pai gritar com alguém, isso simplesmente não combina com ele.

A cara de bravo ele tem mesmo. E não é que ele seja bravo, ele é rígido. Foi com rigidez que aprendi a sempre terminar o que me propuz a fazer, a não desistir, a sempre procurar entender as coisas. Essa rigidez não impôs medo, mas respeito. Nunca vi alguém não ter respeito pelo o que meu pai fala. Ele te conquista aos poucos, vai ganhando a confiança e acaba sendo aquela pessoa para quem você sempre quer pedir conselhos.

O carinho do meu pai vem de um jeito diferente. Vem através de conversas sobre a vida dele, histórias do que ele passou, interesse em saber da nossa vida, estímulos a sempre melhorarmos. Um exemplo bem besta: enquanto eu crescia, sempre tinha uma tarefa de casa para entregar ao meu pai. Ele me questionava sobre o que tinha acontecido em alguma data histórica não tão famosa, sobre quem havia sido o homem que dava o nome para nossa rua e coisas do tipo. Eram os tempos pré internet e eu tinha que ir para a biblioteca descobrir essas coisas, mas sempre me esforçava para voltar com a resposta. Esse era ele cuidando de mim, me ensinando a sempre ser curiosa e não me contentar somente com o que me ensinavam na escola.

Foi meu pai quem me ensinou a gostar de música e, por causa dele, gosto tanto de samba e músicas dos anos 50/60. Foi ele também meu maior exemplo com a leitura, já que cresci vendo-o devorar pilhas e pilhas de livros. Foi com ele que aprendi a gostar de futebol. E, hoje, é em mim que vejo tantas características que antes eu achava ser só dele. Puxei muito essa coisa de ser reservada, de falar pouco sobre o que realmente importa com os outros, de guardar muita coisa pra mim. Também tenho um pouco esse jeito meio anti-social de não puxar conversa com alguém ou demorar um pouco até dar corda para um desconhecido. A cada vez que pego um livro, penso se ele já leu ou se gostaria de ler. É uma das pessoas mais fáceis que conheço para agradar com um presente, já que sempre abre o maior sorrisão ao receber chocolate e livro.

Minha irmã sempre diz que sou a queridinha do meu pai, mas duvido um bom tanto de que ele tenha realmente um filho preferido. Isso não combinaria com ele. Eu só dei sorte de nascer quando meus irmãos já estavam maiores e já não eram tão ligados a ele e minha mãe. Como eu não tinha primos da minha idade, nem muitos amigos na rua, estava sempre junto deles dois.

Nunca tinha falado sobre meu pai por aqui e hoje deu vontade. Nos damos muito bem e criamos toda uma rotina que era só nossa por alguns anos, depois que todos meus outros irmãos saíram de casa. Ao sair da casa dos meus pais, chorava sempre que pensava neles, com saudades. Com o tempo aprendi a conviver com a distância e a matar bem as saudades quando vou visitá-los. Acho que todo mundo passa por isso, né? Já ouvi tanta gente falando que a pior parte de sair da casa dos pais foi justamente perder o convívio diário com eles.

Ana Carolina

8 comentários em “Sobre o Sr. Oswaldir

  1. <3 <3 <3 <3 <3 mas q vc é a queridinha ah isso é :P
    o Celso é o queridinho da mãe, o César é o xodô da vovó e eu sou a ruim/chata/brava, haha, mas blz, combina comigo :D

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