Ana Carô Amaral

Pensamentos soltos sobre a vida depois dos 30

Sobre cigarros e UTI

Minha mudança estava agendada para o dia 16/01. A gente pegou as chaves dias antes, estávamos correndo para embalar o máximo possível na casa antiga e limpar a casa nova. E aí veio um acontecimento que abalou totalmente todos os planos, todas as certezas e a tranquilidade: meu pai saiu para comprar cigarro e foi atropelado, perto de casa, por um carro que entrava pela contramão em uma rua de mão única.

Turrão que ele é, não quis atendimento dos bombeiros e se negou a ir ao hospital. Estava andando, falando, sem dor e aparentemente com nada quebrado. Foi para casa, não conseguiu dormir muito bem e só no dia seguinte resolveu ir ao hospital porque estava com um zumbido no ouvido meio suspeito.

Foi, fez exames e o choque: traumatismo craniano, com entrada de ar no cérebro e formação de pequenos coágulos. A parte boa era que o crânio estava rachado, mas não afundado. Foi internado na hora, na UTI, para ficar em observação. E o tempo todo ele reclamava de ficar lá, queria ir embora, queria descer para fumar só um cigarrinho.

Era para meu pai ter ficado apenas 48h em observação, mas alguns fatores não ajudaram em nada. Ele já é idoso (completa 70 anos agora em julho) e, por isso exige mais cuidados. Ele fuma há mais de 50 anos, pelo menos um maço por dia e, adivinhem? Cigarro é uma droga, causa dependência e abstinência. Essa abstinência fez com que meu pai tentasse se levantar a todo momento, ficasse agressivo e arrancasse tudo o que estivesse nele: agulhas, eletrodotos e tudo mais. Ele teve que ficar amarrado, dia e noite. Ele se machucou, ficou cheio de roxos nos braços por causa da força com que ele arrancava tudo de si mesmo. É comum os idosos ficarem mais confusos na UTI (onde você não sabe se é dia ou noite e não consegue dormir muito bem) e é mais comum ainda vítimas de traumatismo apresentarem uma confusão maior. Aí o que piorou mais isso? Sim, a abstinência do cigarro, que fez com que meu pai ficasse ainda mais fora do ar. Foram nove dias de muita preocupação, muito choro, horas e horas no hospital. Ele só pode ir para o quarto quando um dos médicos liberou o uso de adesivos de nicotina e, assim, ele se acalmou.

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Foram mais dois dias de internação no quarto e, assim que os coágulos desapareceram e o ar diminiu, ele foi liberado para ir para casa. Fomos buscá-lo e, ao chegar na casa da minha mãe, a primeira coisa que ele fez foi procurar o cigarro. Pois é. Saiu do hospital falando que nem pensava mais em fumar, mas foi só sair de lá que ele já correu procurar o veneno. Foi bem triste, meu pai parecia um daqueles viciados que fica na neura procurando a droga, justificando o porque de usá-la e dizendo que é a última vez. Coisa mais triste.

E aí, por que eu tô contando tudo isso? Só pra dizer que se antes eu já odiava cigarro, agora tenho pavor. Uma droga liberada, vendida em qualquer esquina e que causa sérios danos à saúde. Peguei nojo e pavor. Se antes eu já não deixava ninguém fumar na minha casa, agora não quero que fumem nem na frente do prédio. Hahaha.

Ana Carolina

14 comentários em “Sobre cigarros e UTI

  1. Nossa, Carô!!! Q susto! Posso imaginar como deve ter sido difícil acompanhá-lo nessa situação e ainda por cima sofrendo com a abstinência. Graças a Deus ele está melhor, mas é uma pena q ele não tenha aprovietada para largar de vez o vício. Minha mãe é viciada há mais de 30 anos tbm e sempre diz q para qdo quiser, mas adivinha? Da última vez q tentou, se entupiu de comida e acusou a falta de cigarro como fator principal (quis trocar um vício por outro). Para nós filhos resta torcer para q nada mais grava aconteça e q eles tenham saúde por mtos anos.

    1. É fogo, né Ari?
      A gente quer ajudar, mas fica perdido em como fazer isso. Infelizmente, é o tipo de coisa que somente a própria pessoa pode fazer por ela mesma.

      Pra gente resta a torcida para que eles parem. Vou torcer muito pela sua mãe!

  2. Sou assim. ODEIO cigarro. Meu pai fumava de tudo, e quando nasci ele parou. Minha mãe disse que ele ouvia coisas e tudo, por conta da abstinencia. Quando fiz 10 anos, meus pais se separaram, com 15 meu pai voltou a fumar, e ai eram 3 maços por dia. Com isso ele mal comia, e ainda ficava bebendo café como um doido. Nenhum corpo aguenta isso, né? Então, o dele também não, e ele teve uma úlcera. O medo foi tão grande, e o susto também, com isso, ele parou de vez. Mas minhas tias que trabalham com ele não, ele fuma passivamente, mas está mais saudável e gordinho, ele era pura pele e osso.

    Te entendo demais Carô!

  3. Puxa Ana, que barra mesmo :( O meu pai também fuma há muitos anos, não faço ideia de quanto tempo, mas como o meu convívio com ele é bem pouco, eu não tive os problemas de conviver com os dramas do cigarro. Mesmo ele já tendo sido internado duas vezes, por conta de complicações causadas pelo cigarro (já chegou a ter um inicio de enfisema pulmonar), ele nunca para :(

    Eu até consigo compreender quando pessoas mais velhas fumam, pq é cultural, era uma coisa “bonita” e completamente aceitável anos atrás, daí vem o vício e se torna difícil parar. Mas hoje em dia eu não consigo compreender os motivos de alguém da minha idade começar a fumar, sério! É nojento e todo mundo tá cansado de saber o quanto é prejudicial. E o pior, é que percebo que está aumentando o número de jovens fumando, bem triste.

    1. Nossa, Gi!
      Acho que meu pai também não pararia mesmo se sofresse um susto diretamente causado pelo cigarro, como o seu pai.
      É triste, né?

      E tb não entendo os jovens que fumam. Sério.
      Mas acho que isso vem diminuindo, né? Pelo menos não vejo tanto mais.

  4. Isso é muito complicado mesmo…
    Eu também odeio cigarro, mas, felizmente, não convivo com ninguém que fuma!
    Odeio o cheiro!!!
    A pessoa, pra querer parar, primeiro tem que perceber que aquilo é uma droga, que vicia!
    Como bebida alcoolica e cigarro são liberados, as pessoas tem muito mais dificuldades pra perceber isso, infelizmente!
    Seja forte!!
    E que bom que seu pai ja está melhor!

  5. Tô no grupo das que odeia cigarro ainda mais agora que minha avó de 90 anos (!!!) cismou de voltar a fumar por causa do alzheimer !Ela não fumava há mais de 40 anos! Tem noção? E se a gente não compra temos medo dela escapar para comprar e pum: se perder ! Olha, eita situação dificil!

  6. Que barra, Carô! Torcendo pra seu pai se recuperar logo e, quem sabe, diminuir um pouco a frequência do cigarro – ou parar completamente.

    Também tenho birra com o maldito, e quase pelos mesmos motivos: minha avó materna fumou desde os 14 e passou os seus últimos 5 anos de vida lutando contra câncer e tumores em diferentes partes do corpo. Acho que isso me traumatizou, e não só nunca tive curiosidade alguma como também tenho asco, me recuso a ficar perto até de amigos fumando.

    1. Obrigada, Paula!
      Mas adivinha? Ele não parou de fumar não. Diminuiu um pouco, mas continua.
      É um vício muito maldito mesmo.

      Imagino o seu trauma! É muito triste ver alguém que a gente gosta não conseguir vencer a luta contra o cigarro e, pior, contra o câncer. :(

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