Ana Carô Amaral

Pensamentos soltos sobre a vida depois dos 30

Ainda estou aqui

Empolgada para assistir “Ainda Estou Aqui” (que só estréia em Fevereiro pros lados de cá), pedi para amigos me trazerem uma cópia do livro, que eu não lembrava por que nunca tinha me interessado em ler, já que gosto muito do Marcelo Rubens Paiva. E foi só começar a ler, que lembrei do por quê.

Marcelo escreveu o livro para registrar a história de sua família mas, principalmente de sua mãe. Eunice Paiva ficou viúva, com cinco filhos e sem uma profissão, depois que a ditadura militar matou seu marido. Mas isso você já deve saber de cor, de tanto que se fala sobre o filme (indicado essa semana a 3 Oscars! Yay!). Ela teve que lidar com a falta de dinheiro, o luto sem nunca ter a morte do marido oficializada, estudou e criou uma bela carreira para si própria. Recuperou a conta bancária poupuda, viu filhos crescerem, netos nascerem. Viajou o mundo, representou causas incríveis e, ao se aposentar e voltar para o Rio de Janeiro para aproveitar a vida, descobriu o Alzheimer. E esse é o motivo do Marcelo escrever o livro, já que a mãe estava deixando de lembrar de sua história. E esse é o motivo para eu ter evitado ler quando ele saiu, já que o lançamento foi bem próximo ao diagnóstico da mesma doença, recebido pelo meu pai. E eu esqueci disso. Até que li o primeiro capítulo do livro.

Nos primeiros anos da doença do meu pai, eu evitava ver e ler relatos de familiares. Todo mundo sabe o que acontece com quem tem Alzheimer, sempre vimos relatos, lemos matérias, etc. Então por que eu iria me nutrir dessas histórias, geralmente tristes, e ficar esperando pelo pior? Achei melhor não.

Pois bem, lá fui eu totalmente desavisada começar o livro e, logo no início o Marcelo já começa a falar da progressão da doença da mãe. Vai relatando alguns casos, a impressão dele e da família… e foi TÃO familiar para mim que desandei a chorar. O livro me trouxe muitas memórias que, após a morte do meu pai, ficaram guardadas bem no fundo da mente. Me identifiquei muito com o relato dele, como filho, vendo a mãe que sempre foi seu exemplo de cultura, memória e sabedoria ir desvanecendo. O luto em vida pela versão da mãe que já não existe mais e a afeição pela nova, que requer cuidados e muita compreensão.

Terminei a leitura hoje, mal podendo esperar pelo dia 14, quando vou ao cinema assistir ao filme. Muito se fala sobre a tragédia que a ditadura fez nessa família, toda a luta da Eunice… acho doido que, na maioria das vezes, deixem de lado que essa história só chegou ao cinema porque o Marcelo quis registrar tudo o que a mãe viveu e que o Alzheimer tirou das memórias dela no fim da vida.

Ana Carolina

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