Pai, hoje tá sol. Tá calor só pros padrões daqui, uns 18 graus, mas o sol tá esquentando. Acordei cedo, passeei o cachorro (que você não deve se lembrar que tenho), trabalhei o dia todinho e, no fim da tarde, vi duas fotos suas que a Ana postou. A primeira, de quando você e a mãe trabalhavam na Otis juntos, felizes, de mãos dadas, em alguma comemoração na empresa. A segunda é de um dia que lembro muito bem: praia praticamente deserta em Ilha Comprida, você de sunga e camiseta sentado na areia lendo um livro. Eu tinha uns 14 anos, acho que foi no verão de 99. Uma das pouquíssimas férias que você e a mãe tiraram depois que abriram a vidraçaria. Foi uma semaninha de praia, você lendo o tempo todo e só parando um tempinho pra entrar no mar. Foi muito bom ver essas fotos, de surpresa, enquanto lá fora o sol tá brilhando.
Deu a hora de passear o cachorro de novo, fui com ele e o Henrique até o parque pra aproveitar um pouco do dia. Andamos, conversamos, pensei em você de novo. Tenho certeza de que você adoraria o parque, tem uns gramadões perfeitos pra ficar deitado lendo.
Quando voltamos, foi hora de eu sentar de novo no computador pra trabalhar na Lindices. Todo dia faço isso e, de tempos em tempos, penso que você me diria que ter o próprio negócio é isso mesmo: muito trabalho. Só que aí a mãe me mandou uma mensagem perguntando se eu conseguiria tirar o fundo de uma foto sua um pouco tremida, que ela tinha que enviar para a empresa que vai fazer sua foto na porcelana para o seu túmulo. E aquele sol lá fora, brilhando.
A foto não tava boa, então lá fui eu olhar meus arquivos para ver se tinha uma melhor. Encontrei algumas opções, tirei o fundo de todas e mandei pra Dona Bete escolher qual quisesse porque você sabe, né? Ela faz tudo do jeito dela, sempre. Então fiz o que você faria: dei meu pitaco, mas disse que era ela quem mandava. E ela escolheu essa foto abaixo, uma que tirei em um dia de sol e friozinho lá em casa, com vocês se balançando na rede, a gente rindo (e você com um machucado na testa – que a mãe me fez arrumar hoje)… nunca tinha me passado pela cabeça que, naquele dia, eu estava tirando a foto que iria para o seu túmulo. E aí, bateu. Ai que saudade, painho.
Nosso cotidiano é cheio de “não saber”, né? A gente nunca sabe quando é o último abraço, último beijo, ultimo colo, última vez que brincamos na rua, última vez que falamos com aquela pessoa, que estamos visitando aquele lugar…
Depois a gente pode até ter a lembrança e saber que ocorreu naquele dia, como essa foto que você tirou e sabe quando e como tirou, mas no momento que acontecem as últimas vezes, a gente nunca sabe que está sendo a última e acaba não aproveitando melhor, não prestando atenção em mais detalhes…
É uma lição que eu tô tentando aprender: aproveitar e observar tudo com olhos de última vez.
É super, Mila. E na correria do dia a dia a gente deixa passar tanta coisa, né? Quantas vezes sabemos que o momento é uma delícia e merecia uma foto pra relembrar depois mas deixamos para uma próxima vez?
A gente tem muito que aprender a aproveitar e observar tudo muito bem mesmo. <3
Digitei um texto enorme falando como seu texto me tocou e acabei desistindo pq ainda faltaram palavras. Deixo só meu abraço bem apertado e sincero <3
Senti o abraço daqui, Ju. <3
Que foto linda! Como uma foto tão cotidiana, com os dois se balançando na rede, pode mostrar uma alegria tão genuína? Eles parecem felizes. E fiquei imaginando ele na praia, lendo, que também sei que é como vc gosta de lembrar dele e de onde veio sua paixão por livros. Um abraço daqui de longe ❤️
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Carô, nessas horas sempre nos faltam palavras. Meus sentimentos. Te mando um abraço mesmo de longe, meu coração e minhas orações estão em você e família.
Beijos <3
Obrigada, Gabius. <33333