Ana Carô Amaral

Pensamentos soltos sobre a vida depois dos 30

Meus heróis não morreram de overdose

Ontem assisti ao documentário sobre o Senna e fiquei pensando na morte e em como lembro de ter tido meus primeiros contatos com ela. Fui uma pessoa de sorte e até meus 14 anos nenhuma pessoa querida por mim tinha morrido. Sendo assim, meu primeiro contato com a ideia de que “alguém se foi para sempre” foi com famosos que eu gostava.

Lembro bem de quando meu Trapalhão favorito, o Zacarias, morreu. Foi em 1990, então eu tinha 6 anos. Lembro da notícia ter sido dada no Fantástico. Eu estava sentada no chão, encostada no sofá. Lembro das cenas do velório, da retrospectiva mostrando alguns de seus momentos nos Trapalhões e que foi aí que me bateu: “não tem mais Zacarias nos Trapalhões”. Jeito estranho de se perceber que alguém que eu gostava, mesmo de longe, não faria mais parte das novo programas e filmes.

Depois disso, veio o Senna. Quem viveu nos anos 80 e começo dos 90 e não se lembra dos tradicionais domingos de Formula 1 com certeza não tinha televisão em casa. É o único jeito de ter passado ileso ao fenômeno que era o Senna. Lá em casa ninguém era muito fã de Formula 1, mas todo domingo a TV ficava ligada na Globo enquanto meu pai lavava seu Monza na garagem com ajuda dos meus irmãos. Era normal passar pela sala e ouvir a “música do Senna” ou o Galvão gritando “Ayrton Senna do Brasiiiiiiiiiil”. Depois que a corrida acabava a gente se arrumava e ia para a casa da vó almoçar lasanha. Se me perguntam dos meus domingos de infância é disso que lembro.

Aí veio aquele 1º de maio de 1994. Feriado, domingo, provavelmente um pouco frio aqui em SP. Foi só ontem, enquanto assistia ao documentário, que percebi que lembrava super bem dessa corrida. Lembrei das cenas dos acidentes nos treinos, da largada, da sensação de normalidade que era ver a câmera do carro do Senna. E lembrei da tensão que foi quando ele bateu o carro e não saiu andando de dentro dele. Lembrei, de novo, da notícia da morte sendo noticiada no Fantástico. Até lembrei que na segunda-feira a professora nos pediu um minuto de silêncio em homenagem à ele e uma colega de classe começou a chorar feito louca. Estranho, né? A gente só tinha 10 anos e ficamos realmente tristes por um cara que só conhecíamos da TV, pelo qual nascemos torcendo.

Depois disso, em 1996, veio a morte dos Mamonas Assassinas. Os cara que fizeram muita criança gostar de música, de cantar sacanagem na frente dos pais sem ser repreendido, de gritar por aí que foi “convidado pra uma tal de suruba”. Foi no auge, quando estavam começando a aproveitar toda a grana que conseguiram com o pouco tempo de sucesso. Foi brutal também, um avião que cai sempre deixa aquela curiosidade mórbida na gente e todo mundo correu para ver no Notícias Populares as fotos dos “corpos”. Eu era bem fã deles e tenho até hoje revistas, recortes e livros guardados dessa época.

Foi assim que perdi alguns dos meus heróis na infância. Nenhum de overdose, mas todos tão subitamente como se tivesse sido por causa de alguma droga. Estavam lá, vivos, felizes e de repente – BUM! – tinham ido embora.

Ana Carolina

11 comentários em “Meus heróis não morreram de overdose

  1. Eu só me lembro bem da morte dos Mamonas, tinha uns 8 anos, mas lembro bastante. Acho que não fiquei triste, talvez só chocada. Na real nunca fui muito de ficar triste com morte de gente famosa, mesmo que gostasse, apesar de não saber lidar com a morte.
    Felizmente até hoje tive poucas pessoas próximas mesmo minhas que faleceram, três na verdade. E não gosto nem de imaginar :~

    1. o engraçado é que não lembro de ter realmente chorado a morte de nenhum deles. Lembro da tristeza, mas não de choro.

      Em compensação, chorei tudo que podia ontem assistindo ao documentário. hahaha

  2. Ola, lembro de chorar muito com o Senna, eu assistia mesmo as corridas, muitas vezes sozinha. E depois do Maridão, fiquei mais fã. Sim, ele jpa tinha nos deixado, mas li livro do Nuno CObra, treinor dele e percebi que o cara era realmente especial.
    Naquele domingo, fiquei vidrada na TV, sem ação ou reação até a noticia.

    Dos Mamonas lembro da angustia de noticia, de pensar se estava bem ou não.

  3. Nunca vou esquecer do dia em que eu acordei com a notícia que os Mamonas tinham sofrido o acidente. Foi muito surreal, lembro que saí correndo pra avisar a minha prima, que morava ao lado da minha casa e também era fã.
    É bem o que diz aquele velho ditado mesmo, que os bons morrem cedo…
    Beijo Carô!

  4. Todas essas mortes me marcaram bastante, especialmente a de Senna, que tinha um orgulho do Brasil de fazer inveja a muito gente ainda hoje (Lembrem-se que era muito difícil gostar do Brasil naquela época, um país acabado pela inflação, pela pobreza, cuja corrupção era lugar comum muito mais escancarado que hoje, e já com uma Constituição, mas que pouca gente sabia para o que ela servia, etc). Sobre o Zacarias, até hoje, quando tem reunião de família, minha mãe faz questão de contar o quanto eu gostava dele (e da Christiane Torloni. oi?). Quanto aos Mamonas, foi muito duro porque tinha acabado de ir a um show deles, única vez em minha vida que consegui assistir a um show de uma banda que gostava. Enfim, tudo muito triste. Adorei o post.

  5. os trapalhões eram tipo um fenômeno na nossa infância. eu me lembro de quando passava aos domingos, acho que era tipo às 19 horas, algo do tipo, e eu ficava enchendo muito o saco dos meus pais para me levarem pra casa e não perder o programa – sempre íamos pra casa da minha tia…

    o senna… eu me lembro nitidamente do dia em que fizemos a homenagem na minha escola. nossa, foi bem tenso, todos os alunos se juntaram de mãos dadas por todo o prédio, rolou música, fotos e murais dele… todas as crianças chorando muito, era uma loucura. e ele é realmente uma figura tão marcante que, por exemplo, lá em casa meu pai não é fã de esportes mas na época do senna assistia fielmente a formula 1. triste quando um ídolo assim se vai tão jovem.

    mamonas era febre. os meus colegas pintavam os cabelos igual eles faziam, todo mundo cantava as músicas juntos… eu tinha recortes de revista e jornal deles, além do cd tb tinha a fita k7 (a velha falando), altos souvenirs, haha…

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